terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Rússia: Direita volver!

Rússia: Direita volver!

Moscou está resgatando seu papel conservador do século XIX

William S. Lind
Um infeliz legado da Guerra Fria é a atitude negativa que alguns conservadores americanos ainda guardam no coração para com a Rússia. Condicionados por décadas a ver a Rússia e a União Soviética como sinônimos, eles ainda veem a Rússia pós-comunista como ameaça. Eles se esquecem de que a Rússia czarista era a maior potência conservadora do mundo, um bastião de monarquia cristã odiado pelos revolucionários do mundo, pelos jacobinos e democratas. Joseph de Maistre não foi o único conservador do século XIX a achar refúgio e esperança na Rússia.
Sob o presidente Vladimir Putin, a Rússia está emergindo mais uma vez como a principal potência conservadora do mundo. Como testemunhamos quando a Rússia resgatou o presidente Obama da armadilha que ele mesmo havia armado para si no caso da Síria, o Kremlin está hoje, como diz reportagem do jornal New York Times, “estabelecendo o papel da Rússia nos assuntos mundiais não com base no paradigma ultrapassado da Guerra Fria, mas em vez disso em sua perspectiva diferente, que favorece a soberania do Estado e a estabilidade do status quo acima da propagação da democracia de estilo ocidental.”
Em seu próprio artigo no New York Times, Putin escreveu: “É assustador que a intervenção militar em conflitos internos de países estrangeiros tenha se tornado comum [na política externa] dos Estados Unidos. Será que esse é o interesse de longo prazo dos EUA? Duvido disso.” Os conservadores americanos Robert A. Taft e Russell Kirk também duvidavam disso.
Moscou parece compreender melhor do que Washington que o requisito mais importante da política externa do século XXI é a preservação do Estado em face da Guerra da Quarta Geração travada por entidades não estatais, tais como as entidades que estão lutando do lado dos rebeldes na Síria. A Rússia com toda a razão tem repreendido Washington por destruir Estados, inclusive o Iraque e a Líbia.
Quando Putin se tornou presidente depois dos caóticos anos de Yeltsin, havia uma possibilidade real de que o próprio Estado russo se desintegraria. A maior realização de Putin, e a razão de sua popularidade dentro da Rússia, é que ele salvou e fortaleceu o Estado russo. Cegadas por sua adoração ao deus de barro “Democracia,” as elites de Washington não conseguem perceber a importância do que Putin fez, mas os conservadores deveriam perceber. A Rússia pode ser um tremendo aliado contra as entidades da Quarta Geração, e os conservadores preferem Estado à anarquia sem Estado. O novo conservadorismo russo, que é na verdade apenas a volta ao conservadorismo que já exista entre eles no passado, é evidente não somente em sua política externa, mas nas políticas nacionais também. Em setembro o jornal Financial Times noticiou:
Vladimir Putin conclamou os russos a fortalecer uma nova identidade nacional baseada em valores conservadores e tradicionais tais como a Igreja Ortodoxa ontem, avisando que o Ocidente estava enfrentando uma crise moral… O sr. Putin disse que a Rússia deveria evitar o exemplo dos países europeus que estão “abandonando suas raízes” ao legalizarem o casamento gay e excessivos “modismos politicamente corretos.”
“As pessoas em muitos países europeus estão com vergonha e medo de falar sobre suas convicções religiosas,” Putin é citado dizendo, com feriados religiosos “sendo removidos ou chamados de outra coisas, escondendo de forma vergonhosa a essência do feriado.”
“Precisamos respeitar os direitos das minorias de serem diferentes,” ele acrescentou, “mas os direitos da maioria não devem ser colocados para discussão.” Sobre um presidente americano dizendo tais coisas, só dá para os conservadores americanos sonharem. Mas será que não deveríamos aplaudir um presidente russo que está tendo a coragem de desafiar “os modismos politicamente corretos”?
O mundo virou de cabeça para baixo. Os EUA, condenando e até atacando outros países para promover sua “democracia” e definições jacobínicas de direitos humanos, estão se tornando o líder da Esquerda internacional. A Rússia está confirmando seu papel histórico como líder da Direita internacional. Essa é uma reversão de importância histórica. A política externa dos EUA precisa se basear nos interesses americanos, não na afinidade para com alguma potência estrangeira. Mas colocar os EUA em primeiro lugar não significa que os americanos são obrigados a ser hostis à Rússia ou a outros. Pelo contrário: os conservadores americanos deveriam dar as boas-vindas ao ressurgimento de uma Rússia conservadora.
William S. Lind é diretor do Centro Conservador Americano de Transporte Público.
Traduzido por Julio Severo do artigo do The American Conservative (O Conservador Americano): Russia’s Right Turn
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